Os habitantes da cidade pertenciam a, praticamente, uma só raça, descendentes da linhagem portuguesa. Eram entre 15 mil habitantes, sendo que somente 3 mil eram alfabetizados. Ainda assim, eram trabalhadores e patrióticos. Admiravam o belo e a instrução.
Sobre o Sistema Educacional
O município tinha 8 aulas públicas de instrução primária, 3 delas na cidade, sendo uma do sexo masculino, uma do sexo feminino e uma mista. As cinco restantes distribuiam-se pelo Cadeado, Ivaí, Três Capões, Rincão dos Valos e Santa Bárbara. Além destas mencionadas, havia mais três particulares. Uma delas, funcionava no Sobrado dos Verissimos.
Sobrado dos Verissimos
A população escolar era de 412 alunos: 280 do sexo masculino e 132 do feminino. Houve uma aula noturna de ensino secundário, dirigida por Guilherme Joaquim da Costa, que em sua curta existência obteve ótimo resultado.
Possuía uma biblioteca particular por meio de assinaturas, que contava com 800 e tantos volumes.
Havia três sociedades literárias: O Clube Aurora da Serra, Academia dos Tímidos e o Clube Amor ao Estudo, esse último possuia diminuta biblioteca. haviam outras sociedades literárias, porém, tiveram vida curta.
O Clube Aurora da Serra publicava uma revista mensal e a ele cabe UM FATO HISTÓRICO: O mérito de ter feito a cidade ser uma das primeiras do Rio Grande do Sul a libertar todos os escravos, cinco anos antes da abolição da Escravatura.
Foto da família Schoeder em 1897. O escravo “liberto” e sua filha à esquerda.
Sobre o transporte
Por incrível que pareça, no final do Século XIX, Cruz Alta gozava de uma estrutura quase vitoriana. Havia taxis, ou melhor, carruagens de aluguel, para locomoção na cidade, nos subúrbios e derredores. As pessoas mais pobres se locomoviam por meio de carroças, a classe média por meio de tílburis, e os mais abastados, por meio de carruagens, como podemos ver nesta foto, de fronte a Igreja da Matriz:
Tílburi (cabine aberta) no círculo azul e uma Carruagem (cabine fechada) no circulo vermelho.
Duas tílburis fronte ao Banco da Província
E como aquela gente fazia para se locomover de uma cidade para a outra? Ora, isso não era problema, quando se gozava da moderna companhia de viagens “Progresso”. Cada passageiro tinha direito de carregar até 10Kg de bagagem e a diligência comportava até 5 passageiros.
Diligência de Viagem Progresso
As viagens tornaram-se mais rápidas e confortáveis a partir de 20 de novembro de 1894 , quando construíram a estrada de ferro e circulou o primeiro trem por aqui. O material foi todo importado da Bélgica e as cinco locomotivas foram compradas nos Estados Unidos. A exploração da via férrea permitiu que a cidade se desenvolvesse de uma forma nunca antes vista, passando a ser pólo cultural e político, referência de desenvolvimento para o Estado.
Inauguração da estação ferroviária
Estação ferroviária
CURIOSIDADE:
Graças aos esforços do pesquisador Rossano Cavalari, podemos ter uma noção de como deveria ter sido Cruz Alta, quando os primeiros moradores se instalaram por aqui.
Continua...
Que belíssimo resgate histórico! Não sabia que a Igreja Matriz era tão antiga. Como era progressista a cidade ! Que será que deu errado?
ResponderExcluirAdoro esse prédio da Estação Ferroviária, aliás, gosto de estações, parecem nossas vidas. Ela é um ponto de partida, nós escolhemos o nosso destino , optamos por qual trilho seguir. Com chance de trocarmos de destino.
Vocês estão de parabéns e espero que a cidade reconheça a importância desse trabalho.
Greice e Henrique. Tenho procurado e encontrado algumas boas referências de história de Cruz Alta nos últimos tempos. São trabalhos acadêmicos que infelizmente raramente são divulgados. Alguns estão inclusive disponíveis on-line, de graça. Caso não conheçam, acho que vão se interessar...
ResponderExcluirARAÚJO, Thiago Leitão de. Escravidão, fronteira e liberdade: políticas de domínio, trabalho e luta em um contexto produtivo agropecuário (vila da Cruz Alta, província do Rio Grande de São Pedro, 1834-1884). Dissertação de Mestrado. Porto Alegre: UFRGS, 2008. (Disponível no banco digital de teses e dissertações da UFRGS)
DARONCO, Leandro Jorge. À Sombra da Cruz: trabalho e resistência servil no noroeste do Rio Grande do Sul – segundo os processos criminais (1840-1888). Passo Fundo: Ed. UPF, 2006.
MEIRELLES, Ione Tereza Luft. Para que a história do tempo não se perca no vento: Presença e lugar do negro na Mui Leal Aldeia do Divino Espírito Santo da Cruz Alta 1820-1890. Dissertação de Mestrado PPGH/PUCRS. Porto Alegre: PUCRS, 2002. (Encontrei na biblioteca da PUCRS, em Porto Alegre)
MOURA, Fabrício Renner de. Avante, vamos para a luta! Cotidiano e militância dos trabalhadores ferroviários da cidade de Cruz Alta (1958-1964). Dissertação de Mestrado. Porto Alegre: PPGH/PUCRS, 2007. (Disponível no banco digital de teses e dissertações da PUCRS)
NASCIMENTO, José Antonio Moraes do. Derrubando florestas, plantando povoados: A intervenção do poder público no processo de apropriação da terra no norte do Rio Grande do Sul. Tese de Doutorado. Porto Alegre: PPGH/PUCRS, 2007. (Disponível no banco digital de teses e dissertações da PUCRS)
POZZEBON, Maria Catharina. O caminho das tropas e a formação de Cruz Alta. Dissertação de Mestrado PPGH/PUCRS. Porto Alegre, 2001. (Disponível na biblioteca da Unicruz)
RAHMEIER, Clarissa Sanfelice. A experiência da paisagem estancieira: Um estudo de caso em arqueologia fenomenológica. Estância Vista Alegre, noroeste do Rio Grande do Sul, Século XIX. Tesee de Doutorado. Porto Alegre: PPGH/PUCRS, 2007. (Disponível no banco digital de teses e dissertações da PUCRS)
ZARTH, Paulo Afonso. Do Arcaico ao Moderno: o Rio Grande do Sul agrário do século XIX. Ijuí: Ed. Unijuí, 2002.
E com certeza tem mais. Ainda estou procurando.
Olá, Jonathan!
ResponderExcluirFicamos felizes que tenha tido o trabalho de citar esses trabalhos, os quais, não conhecemos.
Com certeza, vamos atrás deles!
Obrigado pela ajuda!!!
Olá, Tariza!
ResponderExcluirA Igrega Matriz que está na foto acima foi construída em 1860 e poucos.
A Igreja Matriz que está em pé hoje, não é a mesma. Foi construída em 1940 e poucos.
A primeira (muito mais bonita do que a atual) foi demolida devido a graves rachaduras em uma das torres.
Interessante notar que três destas pesquisas detêm-se na questão da escravidão, e todos eles demonstram que o trabalho escravo foi muito mais importante para a economia local do que geralmente se fala, (João José de Barros, aceito por Prudêncio Rocha e Rossano Cavalari como fundador da vila, tinha pelo menos 8 escravos, inclusive crianças, ou seja, o cativo este sempre presente na povoação). Além disso, estas pesquisas mostram que as relações entre senhores e escravos foram muito mais complexas do que pensamos. Leandro Daronco estuda os crimes cometidos por escravos (inclusive casos de escravos que tentaram matar seus senhores) e Thiago Araújo apresenta documentos mostrando que muitas alforrias eram condicionais (exemplo: um sr. dava em testamento a liberdade para seus escravos, com a condição de que estes continuassem a servir sua sra. até a morte da mesma), ou seja, era uma liberdade entre aspas. Estes dois trabalhos deixam claro que a relação entre senhores e escravos não era sempre amistosa como afirmam certas teses de uma suposta escravidão "branda" nesta região. Havia conflitos, tentativas de fuga, castigos corporais violentos, etc... Ione Meirelles analisa o caso do Clube Aurora da Serra, e argumenta que a libertação dos escravos escondia tbm interesses políticos, e não pode ser compreendida como um simples ato de bondade. Os escravos eram libertados para quê? Para viver aonde? Com que dinheiro? Presos a uma dívida moral com seus senhores, muitos continuaram servindo aos mesmos. Meirelles fala que neste caso "a abolição foi sinônimo de continuismo dissimulado".
ResponderExcluirEnfim... a quem tiver interesse, posso enviar por e-mail os textos disponíveis em formato digital.
Olá, Jonathan
ResponderExcluirMuito bem colocado. Por esse motivo que colocamos aspas quando dizemos escravo "liberto". Aqui, em Cruz Alta, após a abolição, os coitados não tiveram o que fazer, nem para onde ir. Acabaram se metendo nos matos em derredor da cidade, formando os primeiros dois bairros, no final do século XIX, o Barro Preto e a Capoeira.
Com certeza, a abolição não foi um ato de bondade, mas, acima de tudo, conveniência política, além da pressão da opinião pública, pois, esse fenômeno estava ocorrendo em todas as partes do mundo.
Todavia, qualquer coisa, por mais altruísta que pareça, visa beneficiar a aristocracia, desde a Revolução Francesa à instalação da República brasileira.
Todo bom observador e pesquisador sabe que, por trás de qualquer história dita como "oficial" há uma grande verdade ocultada por conveniência, afinal, a história dos livros é contada apenas sob o ponto de vista dos vencedores.
Por obséquio, envie-nos os textos em formato digital. Faria-nos um grande favor!!!
Um abraço!
Admito que muitas vezes passei por aqui e permaneci horas encantada com a diversidade de fotos, textos e histórias de Cruz Alta. Vocês conseguiram resgatar algo que fora perdido a muito tempo. Souberam extremamente bem colocá-las para centrar a atenção de seus leitores. Meus mais sinceros parabéns e espero ansiosa pelas próximas postagens que me levam de volta ao tempo, que nem vivi.
ResponderExcluirObrigado, Caroline
ResponderExcluirSentimo-nos honrados pelo elogio. Essa série de matérias que faremos sobre a Cruz Alta do século XIX apresentará muitas raridades que, esperamos que lhe agrade.
Abraços!
e a capoeira como era?por favor gostaria muito de saber onde era,pois minha vó se criou lá,e sempre falava pra nós,mas nunca soube onde era,lá é o lugar onde guarda grandes coisas do passado.por favor me responda por e-mail:deia2701@hotmail.com...obrigada
ResponderExcluire a capoeira como era?por favor gostaria muito de saber onde era,pois minha vó se criou lá,e sempre falava pra nós,mas nunca soube onde era,lá é o lugar onde guarda grandes coisas do passado.por favor me responda por e-mail:deia2701@hotmail.com...obrigada
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