Lenda do Enterro de Dinheiro

   Quando Cruz Alta ainda não conhecia a luz elétrica (e toda a parnafernália que veio junto com ela), as ruas eram de terra socada, iluminada por lampiões de querosene, não havia automóveis, saneamento básico, nem banheiro dentro das casas, e, é claro, também não haveria de ter agências bancárias para garantir a segurança financeira das famílias. A primeira agência instalou-se por aqui somente em 1918, com uma filial do poderoso Banco Pelotense.

Assim era Cruz Alta no final do século XIX, lá pelos idos de 1890

Apenas por curiosidade, o mesmo local da foto acima nos dias atuais

   Pois bem. Sabemos também que Cruz Alta tem sua história marcada por muitas lutas e derramamento de sangue. O local da foto acima, por exemplo, foi cenário de muitas batalhas e tiroteios, inclusive, o capítulo "O Sobrado" de "O Tempo e o Vento" de Erico Verissimo, é inspirado em uma ocasião em que, no sobrado da esquina à esquerda dessa mesma rua, os Federalistas fecharam o cerco, e o ocorrido foi o mesmo descrito pelo nosso querido contador de histórias. Dizem que em nenhuma outra cidade do continente Americano morreu tanta gente degolada quanto em Cruz Alta. nem mesmo a Revolução Francesa vitimou tantas almas.

Vista panorâmica da cidade da Cruz Alta no início do século passado

   Feita a devida introdução, podemos imaginar que não era fácil manter o dinheirinho seguro naquela época. A qualquer momento do dia poderia chegar bandos de arruaceiros, aventureiros, inimigos políticos, saqueando botecos e casas que encontrassem pela frente, como muito ocorreu, de fato. De nada adiantava guardar o suado dinheirinho em baixo do colchão.

   A solução encontrada foi simples: depositar as economias em panelas de ferro e enterrá-las nos quintais, próximo de algum ponto estratégico.

   Passaram-se os anos, os prédios mais antigos foram sendo derrubados, e nas escavações para levantamento de arranha-céus, dutos e andares subterrâneos, dizem que muita gente encontrou panelas e mais panelas recheadas de patacões, libras esterlinas e moedas de ouro.

  É com muita frequência que se ouve por aqui, quando algum prédio vem abaixo, pessoas tencionando escavar o local em busca de algum tesouro perdido. Há pouco tempo, fomos informados por um operário que participou da demolição do Sobrado dos Verissimos, que ele havia encontrado uma quantia considerável de moedas antigas.

Sobrado dos Verissimos - construído pelo 

avô paterno de Erico Verissimo

  

    Sabemos também de outros casos verídicos, cujos felizardos não gostariam de ter seus nomes mencionados por aqui. Seja como for, essa é uma lenda muito afamada que, ao contrário da maioria, possui um tanto de veracidade. A chave confirma.