Extraído do Jornal Estilo do dia 30 de julho de 2011
Coluna de Henrique Madeira
Prosseguindo nossa saga biográfica, nesta ocasião, adentraremos nos últimos anos da adolescência do mestre Josino dos Santos Lima. Na verdade, principiaremos em um momento específico e de extrema importância em sua vida. Corria o ano de 1894. Ano em que as forças rebeldes (os Federalistas) dos irmãos Gomercindo e Aparício Saraiva causaram no RS. Vale lembrar que, Cruz Alta, era o ninho dos Pica-Paus (Republicanos), portanto, uma cidade de direita, por assim dizer. Os Federalistas eram como se fossem hoje, Liberais de extrema esquerda.
No dia 31 de julho de 1894, corriam rumores de que os dois federalistas referidos chegariam a Cruz Alta, a qualquer momento. Segundo o comentário de boca em boca, dizia-se que os cavalarianos vinham matando velhos, mulheres e crianças por onde quer que cruzassem. Conseqüentemente, a população de Cruz Alta estava tomada pelo pânico. Muitos destes cidadãos alvoroçados procuraram proteção na casa do pai de Josino, pois, era costume deste, hastear a bandeira de Portugal à sua porta, e, assim sendo, aquele ambiente era visto como um “espaço neutro”.
Farmácia Philodema (Detalhe da bandeira de Portugal no topo) |
Sem medir palavras, o jovem Josino retrucou: – Se já passaram uma vez, perseguidos pela mesma divisão, podem, do mesmo modo, tornar a passar.
O capitão irritou-se, dizendo que Josino era um maragato manso, e que estes eram os piores. Em seguida, o capitão republicano apertou a mão do pai de Josino e despediu-se, pois ele não ficaria ali, em casa suspeita. Mas qual! Josino não deixou barato a afronta, e respingou: – O senhor ainda aperta a mão desse homem?
O capitão republicano deixou o ambiente quieto, porém, era visto que a besteira estava feita. Uma das senhoras, que se identificou como prima do capitão, disse que Josino havia feito mal em retrucá-lo. Ele era tido como um homem calado, mas muito vingativo.
Pois, dito e feito! No dia seguinte, Josino andava pelas calçadas empoeiradas da Rua do Comércio (Atual Rua Pinheiro Machado), em direção ao seu sobrado (localizado onde hoje é a Loja Brasília) para abrir a Farmácia Philodema, quando, ocasionalmente, parou, uma quadra antes, para conversar com um trio de amigos. Eis que, surge, então, o dito capitão republicano, acompanhado de quatro policiais, dando voz de prisão ao farmacêutico. Logo seus amigos intercederam, pois haveria de ser algum engano, afinal, o farmacêutico era um jovem honrado e jamais se metera em política.
Em vias de ser levado ao xilindró, cruzou pela rua um major que, informando-se do que se sucedia, foi às pressas tratar com o comandante da brigada, conseguindo ordem oral para livrar a pele de Josino Lima. Mas o capitão vingativo não se deu por vencido, cochichou algo aos seus camaradas, que responderam, em viva voz, que deveriam mesmo é arrancar a cabeça do pobre farmacêutico. Só havia uma alternativa de salvação: o major recorreu ao chefe politico local, o Coronel José Gabriel da Silva Lima, conseguindo deste um bilhete que dizia: “General, peço o obséquio de entregar-me o prisioneiro Josino dos Santos Lima até se entender comigo”.
Em vias de ser levado ao xilindró, cruzou pela rua um major que, informando-se do que se sucedia, foi às pressas tratar com o comandante da brigada, conseguindo ordem oral para livrar a pele de Josino Lima. Mas o capitão vingativo não se deu por vencido, cochichou algo aos seus camaradas, que responderam, em viva voz, que deveriam mesmo é arrancar a cabeça do pobre farmacêutico. Só havia uma alternativa de salvação: o major recorreu ao chefe politico local, o Coronel José Gabriel da Silva Lima, conseguindo deste um bilhete que dizia: “General, peço o obséquio de entregar-me o prisioneiro Josino dos Santos Lima até se entender comigo”.
Neste ínterim, Josino foi conduzido para a cadeia (que se localizava de fronte ao Colégio Margarida Pardelhas), sob a promessa de que nada aconteceria, enquanto não viesse a decisão de José Gabriel. Todavia, mesmo após receber o bilhete, os policiais republicanos não queriam libertar o farmacêutico. Assim posto, interveio outro coronel, que não conhecia Josino, mas sabia da honradez de sua família, fazendo com que o general cedesse. Assim o futuro maior intelectual que Cruz Alta conheceu, escapou de morrer, injustamente, por degola, pois, naquela época, até mesmo um olhar enviesado já era motivo para querer matar um homem.
Na próxima edição, falaremos sobre o, provável, maior dilema da vida de Josino Lima: Escolher entre o amor da mulher amada e o amor ao estudo. Voltaremos!!!
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