terça-feira, 11 de outubro de 2011

A biografia de um certo Josino Lima - Parte I

Extraído do Jornal Estilo do dia 16 de julho de 2011
Coluna de Henrique Madeira


   Creio que já devo ter utilizado este espaço – umas duas ou três vezes – para expressar minha fascinação sobre o (provável) maior intelectual que essa terra já conheceu: Josino dos Santos Lima. Afinal de contas, nossos livros não têm registro de qualquer outro cruz-altense multifacetado, que foi professor, escritor, astrônomo, botânico, farmacêutico, jornalista, topógrafo, historiador, inventor, físico, matemático, músico multi-instrumentista e poliglota (sem mencionar que desenvolveu todas estas aptidões de forma autodidata).
   Considerando tais atributos, é justo afirmar que Josino Lima foi uma criatura literalmente descomunal, para falar pouco. Sua vasta cultura, contrastando com sua profunda obscuridade histórica, intrigou-me a ponto de ter pesquisado informações (parcas), porém suficientes para formar para vocês uma curiosa biografia, ou melhor, um painel psicológico, para que possamos tentar compreender um pouco da infeliz existência e da genialidade desta figura singular de nossa história.
   Pois bem. Comecemos pela sucessão de tragédias que marcaram sua infância. Josino dos Santos Lima, filho de Joaquim dos Santos Lima e Ana Gomes Moraes, nasceu à Rua do Comércio (Atual Pinheiro machado) no dia 18 de agosto de 1861. Poderíamos dizer que seu nascimento, por si só, constituiu-se em uma verdadeira peripécia, pois seu pai, ao invés de oferecer ao rebento o leite materno como primeira refeição, deu-lhe de comer pão de ló e vinho – antigo costume lusitano, pois acreditava que isso tornaria a criança mais sadia e robusta – quando, na verdade, poderia o infante ter morrido engasgado durante sua primeira refeição, afinal.
   Parece que o perigo mortal fazia gosto de rondar o recém-nascido, que logo passou a mamar as tetas da escrava, e que havia contraído uma doença infecciosa de pele chamada Bouba – aqui deve ser aberto um parêntese para dizer que Josino sempre culpou a ama de leite por ter-lhe transmitido, anos mais tarde, uma cruel infecção das vias urinárias que o atormentou até os seus últimos dias – mas isso será narrado mais adiante.
   Outro drama deu-se quando Josino Lima contava apenas dois anos e meio de idade, e uma epidemia maligna de varíola assolou Cruz Alta. A peste acabou afligindo ele próprio, sua mãe e mais três escravos. Somente seu pai Joaquim escapou, ainda que tivesse sido o único a recusar a vacina preventiva. O imprevisto acabou vitimando sua irmãzinha de apenas oito meses.
   Com o transpasse da pequena, Josino tornou-se um primogênito superprotegido. Ao iniciar seus primeiros anos escolares, ia ele um tanto mimado, bem vestido e penteado. Motivos que o tornaram mal visto pelos colegas, sendo diversas vezes prometido a brigas, tomando empurrões e rasteiras. Certa feita, tomou ele uma cabeçada no estômago tamanha que quase perdeu os sentidos. Tal golpe causou-lhe um pequeno tumor, que era perceptível a apalpadas, e que lhe provocava incômodos toda vez que se agachava para calçar os sapatos. Pouco depois também contundiu o cóccix e quase perdeu um dedo em uma máquina de moer farinha e erva-mate.
   Porventura, sua única alegria de infância também fora proveniente de uma tragédia: uma visita a Portugal, patrocinada pela herança da morte do avô materno, em 1872. Josino percorreu as principais cidades de Portugal, parando, por fim, em Provizende, cidade materna de seu pai. Quando as libras esterlinas começaram a evaporar como água, a família retornou à Cruz Alta. A promessa feita pelo seu Joaquim, de patrocinar os estudos do filho na faculdade de Coimbra, acabou ficando só na palavra. E isso foi tudo. Mas não acabaria aí a sucessão de dramas que acompanharia a existência dolosa de Josino Lima.
   Na próxima ocasião, entraremos em alguns pormenores de sua adolescência, bem como os primeiros degraus galgados da formação intelectual do dito cujo.

Um comentário:

  1. Amadinhos primeiro vim agradecer o
    carinho de sempre e informar que
    meu blog simplesmente sumiu,quem
    se quiser me visitar estou no endereço:

    http://www.facebook.com/alcena.cvc

    bjs tenha dias lindos e abençoados!

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