quinta-feira, 19 de maio de 2011

O Último dos "Moicanos"

   Nos primórdios do desenvolvimento de nossa aldeia, do Século XIX até a metade do século XX, as casas comerciais eram muito diferentes das que temos hoje. Era normal entrar em um boteco e encontrar de tudo, desde tecidos, chapéus, artigos para o lar e mantimentos em geral. Passaram-se os anos e esses estabelecimentos chamados de “bodegas” foram desaparecendo para dar lugar a casas especializadas.
   Felizmente, hoje em dia ainda há um estabelecimento comercial remanescente dessa linhagem quase extinta, e, não por acaso, o mais tradicional de nossa cidade, o famoso “Bolichão” do Homercher.
   Nilton Paulo Homercher nasceu em Boa Vista do Cadeado. Iniciou seus estudos em Rincão Seco, município de Ijuí, depois ingressou no Ginásio Cristo Redentor, de Cruz Alta, formando-se em Contabilidade. Consorciou-se com Clotildes Muradás Homercher, e, com um generoso impulso de seu sogro, José Muradás Portos, assumiu, em 1963, o “Armazém Avenida”, que foi rebatizado de “Bolichão”.
   Sob sua administração, o local ganhou os mesmos ares dos antigos botecos que existiam no início de nossa “Vila da Cruz Alta”. Não apenas no aspecto e na variedade de secos e molhados e produtos gauchescos, mas, também, no peculiar clima amigável, tipicamente interiorano, onde clientes se confundem com amigos, em perfeita harmonia. Talvez estes sejam os ingredientes do sucesso de uma casa com quase meio século de atividade.
   Outro fator contribuinte a esse “misticismo”, diz respeito ao próprio prédio. Cogita-se que o estabelecimento, situado na esquina das ruas General Câmara e General Osório, fora construído nos últimos anos do Século XIX, funcionando como residência e fábrica de massas Dell’aglia, de Raphael Dell’aglia. Não há documentos contundentes que comprovem essa suposição. Sabemos também que o dito Raphael foi várias vezes citado na primeira parte da autobiografia “Solo de Clarineta”, de Erico Verissimo. E essa mesma família Dell’aglio serviu de inspiração na composição do romance “Música ao Longe”.
   Além dos fatores descritos acima, de quebra, Homercher nos dá uma lição de senso de preservação ao patrimônio arquitetônico de nossa cidade. Com mais de – supostos – cem anos, o prédio apresenta-se impecável. Os detalhes da platibanda, as aberturas em arco com bandeira e até mesmo as telhas grossas, típicas do Século XIX, estão devidamente conservadas. Compare as fotos abaixo:
Foto: Alfredo Roeber
   Em dias como estes, em que as leis abrem as pernas para o dinheiro tal como prostitutas, e a cada semana um prédio antigo vem abaixo, são exemplos nobres como este que devemos seguir. Afinal, preservar o passado de nossa cidade não é apenas um ato moral ou social, é questão de consideração e decência!

3 comentários:

  1. Só podemos desejar que os filhos sigam a mesma filosofia do pai e resistam "ao canto da sereia" das construtoras. É uma esquina valiosa.

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  2. Concordo Henrique manter o patrimônio
    arquitetônico e cultural nos diferencia
    dos outros povos!
    Fico feliz que Cruz Alta tenha visão de
    futuro mantendo o seu passado!
    Henrique uma duvida o que funciona hoje
    lá no casarão?
    Abraço e tenha dias abençoados

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  3. Alcena, nesse casarão ainda funciona o bolichão do Homercher. Pouquíssima coisa foi mudada em um século.

    Infelizmente, Homercher faz parte de uma minoria esmagadora, que ainda preserva o patrimônio.
    Um abraço!



    Tariza, são justamente os filhos dos proprietários dessas casas antigas que colocam tudo a perder. Herdam as residências, acabam verdendo e esses tesouros públicos são demolidos para dar lugar a um arranha-céu. Infelimente.
    Um abraço!

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