quarta-feira, 13 de abril de 2011

O auge e a derrocada do primeiro prefeito de Cruz Alta


    José Gabriel da Silva Lima é uma figura histórica muito controversa. Tudo que fazia acabava dando errado; sua trajetória oscilou entre o poder e o ostracismo absoluto; foi admirado tanto quanto foi odiado, e, quando faleceu, nem a lembrança de sua existência parece ter ficado. Restaram poucos dados, tudo é muito obscuro e confuso, a começar por sua origem. Sua procedência exata não é averiguada, mas alguns antigos diziam que teria ele vindo de Santa Maria. Ainda jovem, era sacristão da Matriz do Divino Espírito Santo, depois passou a advogar. Todavia, no Século XIX a polícia (chamada de Guarda Municipal), o Poder Judiciário e as Leis ainda não estavam bem fixados, tudo era relativamente precário e o que prevalecia mesmo era a lei da força.
   Certa feita, discordando da sentença do juiz, José Gabriel organizou uma força de 200 homens e atravessou a Rua Pinheiro Machado no intuito de prender e depois deportar um advogado que viera de Palmeira das Missões para defender os Liberais em Cruz Alta (José Gabriel era Conservador). Para aproveitar a viagem, ainda bateu na casa do próprio juiz, chamado Dr. Arcanjo de Figueiredo, na tentativa de depô-lo. Para seu infortúnio, acabou achando resistência de um juiz de Soledade, que disse, expressamente, que só passando por sobre seu cadáver poderiam desacatar ao Dr. Arcanjo.
   Ao ingressar na vida pública, José Gabriel foi presidente da Câmara de Vereadores, no primeiro império, quando detinha o Legislativo e os Poderes Executivos. Mas acabou renunciando, dando como justificativa de seu gesto a “Incompreensão de um povo mal educado que deixava as reses na rua e se opunha ao seu recolhimento”.
   O auge de sua vida política viria em 1892, quando assumiu o posto de primeiro Intendente da Cruz Alta, além de ocupar o invejável cargo de sub-chefe de polícia da região. No ano seguinte, participou da Revolução de 93, protagonizando um insucesso histórico, nas proximidades de Passo Fundo, em que por falta de planejamento, teve sua força dizimada pelos federalistas de Prestes Guimarães.
   Seja como for, assim como faziam todos os grandes caudilhos de antigamente, José Gabriel comandava com pulso firme. Foi enérgico, vingativo e até mesmo desumano com seus opositores. Para se ter uma idéia, durante a Revolução Federalista, quando se fazia muitos prisioneiros, no dia seguinte ele mandava enfileirar os cativos e fuzilava-os um por um, pois, não alimentando inimigos, a prefeitura poupava gastos (isso acontecia no prédio da Santa Fé, na esquina do Colégio Margarida Pardelhas). E para que tudo fosse bem aproveitado, os corpos dos detentos eram servidos de alimento aos cachorros. Assim comentou o próprio José Gabriel: “Nunca imaginei que fosse tão bom engordar cães e porcos com carne humana”. Nem precisa dizer que sua fama de bárbaro aumentou depois dessa declaração pública.
Desenho de José Gabriel feito por Prudêncio Rocha

   Ironicamente, foi o próprio José Gabriel que acabou decretando sua queda, quando se negou a apoiar Germano Hasslocker, pois este era egresso do partido contrário. Os poderosos Borges de Medeiros e Julio de Castilhos tiraram-lhe o posto de chefe do Partido Republicano, nomeando em seu lugar o General Firmino de Paula e Silva. Estes dois tornaram-se inimigos mortais, travando uma batalha selvagem com boletins ofensivos, distribuído nas casas, nas altas horas da madrugada, além de José Gabriel ter fundado um jornal somente para usá-lo como instrumento político. Pouco adiantou. Numa noite, Firmino de Paula enviou seus capangas para destruírem a redação e inutilizar todo o maquinário. Tal como reza o dito, depois do auge, veio a derrocada.
   José Gabriel foi sepultado no túmulo onde jaz a sua família, nas proximidades da Capela do Cemitério da cidade. A lembrança de sua existência, seus feitos e sua mera memória parece ter sido sepultada com ele. É irônico saber que um homem tão importante para a nossa história, que gozou de tanto poder e prestígio, acabou jazido tal como o mais insignificante dos indigentes, de modo que não existe nenhuma inscrição em seu túmulo. Nem mesmo sua sepultura servira para preservar o seu nome. 
Que triste sina...

6 comentários:

  1. Mas na sepultura dele tem o nome dele escrito.

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  2. Ele também foi deputado do Rio Grande do Sul.

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  3. Olá, Eliandro! O nome na sepultura deve ter sido colocado recentemente, pois, realmente, não havia.
    Bom saber que tu tem interesse na nossa história.
    Um abraço!!!

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  4. Bom dia, vocês poderiam fazer uma matéria falando sobre os túneis secretos do cemitério municipal de Cruz Alta, caso alguém ache que isso é falso procurem pesquisar junto á prefeitura as plantas de construção arquitetônicas do cemitério, os túneis foram feitos para fugas e armazenamento de armas durante a revolução.
    Abraço

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  5. Boa noite teria como vocês fazerem uma matéria mais focada na estação ferroviária e também sobre as locomotivas obrigado abraço

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